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Contabilidade: Ciência Exata?

Publicado em 08/08/2011

As Ciências Contábeis são Ciências Humanas ou Exatas?

Por João Henrique Bueno Correia

Há entre os leigos e até mesmo no meio acadêmico-profissional um engano que tem se tornado freqüente: a confusão acerca da área do conhecimento humano na qual a Contabilidade está inserida. Sem delongas, pode-se afirmar que a Ciência Contábil está, juntamente com a Ciência Econômica e a Administração, na casa do saber humano chamada de Ciências Sociais Aplicadas. Há, compreensivelmente, o estranhamento por parte de alguns, que julgavam à Contabilidade um lugar mais propício junto às Ciências Exatas. Confusão esta, originada do fato da Contabilidade utilizar-se dos números e de parte da Matemática (dentre outras numerosas Ciências) para atingir seus objetivos. Todavia, devemos observar que Ciência alguma é, em si e por si mesma, absoluta.

Com isto, afirmamos que todas as Ciências, enquanto ramos especializados do saber, buscam respostas às suas indagações e que, na busca por tais verdades, vez ou outra tomam emprestado de outro ramo do saber (outra Ciência) algo que lhe faz falta. Uma relação simbiótica, de dependência e co-autoria. Dito isto e assumindo que a Contabilidade tem por objetos de estudos o Patrimônio, a riqueza aziendal e seus fluxos econômicos e ainda a criação de modelos que permitam a racionalização da informação resultando numa melhor fonte para decisões, entendemos que de fato trata-se de uma Ciência Social Aplicada, pois, apesar do uso de números e, em alguns casos, de Matemática Aplicada e Estatística (casos mais específicos), as Ciências Contábeis objetivam informar com precisão determinados dados que, destinados a gestão das organizações, impactam diretamente no meio social.

Noutras palavras, o simples uso de números e Matemática Aplicada não a transforma em Ciência Exata, pois, assim como não é possível julgar uma obra pelas ferramentas que nela se usam, também a Contabilidade não pode ser classificada como Ciência Exata por usar a Matemática, uma vez que o uso desta é limitado a aplicações práticas e prevalecendo sempre a finalidade de influenciar o meio social, definindo-se não pelo método que usa e sim pelo objetivo ao qual prima.

Os cálculos existentes na faculdade de Ciências Contábeis

Resta então a indagação de ordem prática do eventual leitor: “mas afinal, o curso de Ciências Contábeis tem muitos cálculos ou não?”. Podemos afirmar que não e que o conteúdo apresentado é relativamente simples e ainda é aplicado, o que significa que é direcionado para atender as necessidades da profissão. A título de simples comparação, cursos de Engenharia e áreas similares possuem muito mais cálculos. Na graduação em Contábeis, prevalecem matérias que, contrastando com aspectos por vezes extremamente práticos, exigem do aluno um aprofundamento teórico e crítico. O exemplo é a própria disciplina de Contabilidade (básica, intermediária ou avançada), linha mestra do curso, na qual a Matemática está presente, mas não de maneira proeminente, prevalecendo o estudo de como funcionam os fluxos financeiros de uma empresa. Somente níveis mais profundos, geralmente alcançados com estudos mais específicos (pós-graduações), utilizam-se da matemática e às vezes da estatística como ferramentas de aferição, para se conhecer o desempenho e capacidade em dado momento e ainda na criação de modelos para prever comportamentos financeiros e do patrimônio em geral, conforme sugere o Prof. Sérgio de Iudícibus (1982) em uma de suas obras.

Do Bacharel em Ciências Contábeis, de maneira geral, espera-se que possua um conhecimento que o permita identificar o funcionamento do fluxo financeiro, suas tendências e ainda a capacidade de apontar quais fatores internos e externos contribuem para determinado comportamento do capital dentro da organização. Dentre numerosas situações distintas, como fatores internos, podemos exemplificar a diversidade de interesses individuais que podem entrar em conflito com os objetivos da organização – o chamado Conflito de Agência – e, como fatores externos, citamos a constante mudança de leis e normas, principalmente de ordem econômico-financeiro-tributária, que impactam de maneira imediata e às vezes retroativa, nas finanças da organização. Concluímos então que a matemática tem seu papel dentro da Ciência Contábil, mas participando de forma qualitativa e não quantitativa, sendo aplicada em casos específicos e de forma alguma sendo a linha mestra do curso, prevalecendo disciplinas como Contabilidade Geral, Administração, Direito e Economia, revelando o aspecto social e aplicado da Contabilidade, muito distante do conceito equivocado de ciência exata que muitos acreditam que ela seja.

 

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